A legacy for life
As ações antrópicas, especialmente no mundo pós-revolução industrial, estão conduzindo o homem e o planeta a um desequilíbrio ecológico que pode se tornar irreversível, podendo levar à própria extinção da humanidade. O efeito estufa, hoje um dos principais contribuintes para o aquecimento global, aliado a outros fatores como o crescimento populacional, às demandas por mais alimentos, energia e bens de consumo, estão indo além da capacidade de sustentabilidade do planeta Terra.
Representando 80-90% da biomassa global das plantas e a maioria da biodiversidade terrestre do planeta, as florestas desempenham um papel crucial na mitigação e adaptação das mudanças climáticas. Até o momento, as ações antrópicas são responsáveis por removerem quase a metade das florestas naturais do planeta e estamos continuamente perdendo a capacidade de remoção de carbono entre 0,9 e 2,3 Gt por ano, algo em torno de 15% das emissões anuais de carbono apenas devido ao desmatamento (www.nature.com).
A flora e a fauna estão ameaçadas, com muitas espécies de árvores e animais em processo de extinção no mundo todo. A RPPN FOM Prof. W. L. Roque é um local onde se busca recuperar a flora nativa, preservando as características da mesma de acordo com o ambiente ecológico onde ela está inserida. Espécies nativas são replantadas e o desenvolvimento das árvores é acompanhado visando mantê-las sempre saudáveis e seguras.
As árvores possuem uma enorme capacidade de retirar (sequestrar) e fixar carbono (CO2) da atmosfera por serem fotossintetizantes, processo em que sintetizam compostos orgânicos a partir da luz, água e dióxido de carbono (CO2), liberando oxigênio para atmosfera e fixando o carbono em sua biomassa. Estudos mostram que as árvores são capazes de absorver, em média, entre 10 e 40 kg de CO2 por ano. Supondo uma árvore que absorva 25kg de CO2 por ano, um hectare com 400 árvores absorverá 10 tC/ano (toneladas de carbono por ano).
Através da fotossíntese as árvores produzem oxigênio, que é essencial à vida. A quantidade de oxigênio produzido depende de diversos fatores, mas o balanço líquido no ciclo de 24 horas é sempre positivo para qualquer árvore. Em média, uma árvore produz cerca de 100 kg de oxigênio por ano. Um ser humano respira cerca de 9,5 toneladas de ar por ano, mas o oxigênio compõe apenas 23% deste ar, em massa, e nós extraímos somente um pouco mais do que um terço do oxigênio em cada respiração. Isso resulta um total aproximado de 740 kg de oxigênio por ano. A grosso modo, isto significa que sete ou oito árvores seriam suficinetes para cada pessoa.
As araucárias (espécie Araucaria angustifolia) são árvores nativas da região sul do Brasil e que pela qualidade de sua madeira, foram intensamente e extensivamente exploradas por mais de um século. O corte delas levou a uma diminuição considerável das matas nativas de araucárias, sendo hoje uma espécie sob ameaça de extinção. Estudos mostram que restam apenas cerca de 2% da cobertura original das araucárias. Embora, a partir de 2001, uma regulamentação proibindo o corte de araucárias no Brasil foi legalmente aprovada, as ações de preservação e recuperação ainda estão longe de alcançarem o estado original das matas nativas de araucárias no Brasil.
De acordo com o Inventário Florestal Nacional de 2018, a área total de cobertura por floresta natural no Rio Grande do Sul é de cerca de 4.000.000,00 ha (40.000 km2 em áreas descontínuas), mas apenas 9% desta cobertura corresponde a tipologia floresta ombrófila mista (FOM araucárias). Portanto, temos uma cobertura pela FOM equivale a 160.000,00 ha (1.600 km2 não contínuos). Estudos anteriores indicam que a área original no RS, onde havia cobertura por araucárias (várias tipologias), chegava à cerca de 46.843,00 km2. Observe que este valor era superior ao valor de toda a região atual de cobertura por floresta natural no RS (40.000 km2).
Estudos recentes, mostram que as araucárias apresentam um grande potencial de neutralização de carbono, sendo capazes de realizar um sequestro médio para 1.000 árvores/ha da ordem de 293 a 367 tCO2 em 20 anos, um valor bastante significativo, mesmo quando comparado com outras espécies comerciais de árvores que apresentam valores um pouco superiores. Além disso, as pesquisas mostraram que árvores na sua senescência são tão importantes quanto árvores jovens, uma vez que tanto as árvores jovens quanto as mais velhas são capazes de capturar e absorver carbono em volumes muito próximos. Portanto, neste sentido, uma floresta antiga de pé é tão eficiente quanto uma floresta jovem e assim deve ser mantida, preservada e custeada.
De acordo com o recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC - um órgão das Nações Unidas para estudos científicos relacionados às mudanças climáticas) estima-se que aproximadamente 730 bilhões de toneladas de CO2 devem ser removidas da atmosfera durante o século 21 a fim de limitar o aquecimento global em 1,5°C. No entanto, os dados mais recentes apontam para uma ação mais imediata.
A pegada de carbono de uma pessoa varia amplamente de acordo com o seu estilo de vida e, claro, depende muito da riqueza de um país. Por exemplo, nos Estados Unidos, o valor médio da pegada de carbono é de 21 tCO2e (tonelada de carbono equivalente) por ano, enquanto que no Malawi é apenas de 0,2 tCO2e por ano. Isso é uma injustiça e ironia climática uma vez que aqueles que menos contribuem normalmente serão os que mais sofrerão maiores impactos das consequências do aquecimento global. O valor médio global da pegada de carbono é da ordem de 7,0 tCO2e por ano, mas para drasticamente reduzir-se as emissões de gases do efeito estufa, com foco no balanço líquido zero, especialistas afirmam que o objetivo seria alcançarmos no máximo um estilo de vida de 5 tCO2e por ano. Para alcançarmos este valor, cerca de 330 araucárias podem auxiliar neste sentido, uma vez que esta quantidade de araucárias é capaz de sequestrar em torno de 5,5 tCO2e por ano. Em outras palavras, em menos de um terço de hectare um pequeno bosque de araucárias fará o trabalho de compensação de uma pessoa.
É muito importante salientar que, embora algumas espécies exóticas, como o Eucalipto, tenham uma capacidade superior no sequestro de carbono, as florestas nativas ou plantadas de araucárias são melhores adaptadas ao seus ecossistemas naturais, produzem uma gama enorme de benefícios relacionados à biodiversidade e ainda diversos serviços ambientais, quando comparados às florestas comerciais com plantas exóticas. Uma dissertação mostrou que as araucárias de qualquer idade são capazes de armazenar mais carbono no seu fuste do que as árvores comerciais Pinus Taeda. Em outro estudo, foi apresentado que as florestas de araucárias também desempenham um importante papel para o sequestro de carbono orgânico no solo.
Soluções Climáticas Naturais (SCN), de acordo com a definição adotada na Assembleia sobre o Meio Ambiente das Nações Unidas, realizada em março de 2022, são ações para proteger e restaurar sistemas ecológicos naturais ou modificados e para o gerenciamento sustentável, as quais lidam com desafios sociais de forma efetiva e adaptativa, provendo, simultaneamente, o bem-estar da humanidade, resiliência dos sistemas ecológicos e beneficiando a biodiversidade.
Genericamente, SCN são intervenções específicas destinadas a diminuir o efeito estufa provocado pelas emissões de gases e aumentar o armazenamento de carbono nas florestas, pastagens e áreas alagadas, a exemplo do pantanal e dos mangues, através de medidas de conservação, tais como eliminando o desmatamento, pela adoção das práticas de uso sustentável da terra e das práticas de recuperação. Já está comprovado, em bases científicas, que as SCN são capazes de prover em torno de 37% da redução das emissões de gases que são necessárias para limitar o aquecimento global entre 1,5° e 2° C, de acordo com o compromisso para o clima feito na COP26. No entanto, apesar do tremendo potencial das SCN, necessário para 2030, estas recebem atualmente menos de 3% dos investimentos e financiamentos relacionados ao clima. É importante mencionar aqui que cerca de 50% das tecnologias necessárias para se alcançar o balanço zero de emissões, em 2050, ainda estão em desenvolvimento, ou nas fases de protótipo ou demonstração; elas não estão ainda disponíveis no mercado.
É importante chamar a atenção ao fato de que as florestas estão perdendo as suas capacidades de sequestrar e absorver carbono devido ao aquecimento global, como um novo estudo do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) mostrou. As predições são preocupantes com a queda de suas capacidades de absorção de carbono a partir de 2025 e alcançando um ponto em 2070 quando elas poderão emitir mais carbono do que absorver, tornando-as uma fonte substancial de carbono.
A RPPN FOM Prof. W. L. Roque, direta e/ou indiretamente, é uma SCN, pois é um programa sócio-educacional-ambiental, que busca mitigar a presença de carbono na atmosfera, atende a outras funções socioeducacionais da floresta, como a proteção da flora e fauna nativas, a proteção de nascentes d´água, a redução de problemas do clima regional, a formação de recursos humanos multiplicadores, através da realização de pesquisas científicas, educação ambiental e desenvolvimento do turismo ecoconsciente, contribui para a melhoria da ecologia de paisagem, além de proporcionar benefícios sociais com eventual oportunidade de geração de emprego e renda.
Um artigo publicado recentemente mostrou que ações de conservação são capazes de melhorar substancialmente a biodiversidade ou no mínimo desacelerar o seu declínio, quando comparadas a nenhuma ação de conservação, e que áreas protegidas são ferramentas muito importantes para se alcançar resultados de conservação.
A filosofia da RPPN FOM Prof. W. L. Roque é ser um lugar aberto à participação de todos aqueles interessados em melhorar a preservação e recuperação da flora nativa da região onde ela está inserida, visando um futuro mais sustentável às próximas gerações. Por isso torna-se um legado para o futuro do planeta e da vida.
A RPPN FOM Prof. W. L. Roque é sem fins lucrativos, mas nem por isso deixa de ter encargos que demandam recursos, tanto financeiros quanto de capital humano, para o manejo das árvores e da sua própria manutenção. Para facilitar, viabilizar e integrar a participação como parceiro do projeto, as araucárias podem ser plantadas e/ou adotadas por indivíduos, instituições ou empresas, ou mesmo doações espontâneas podem ser realizadas. A RPPN possibilita a participação de qualquer um, em qualquer lugar do mundo, a contribuir para um melhor planeta, desde que compartilhe com os mesmos princípios.
Há outras formas de parceria, que também podem ser viabilizadas, contate-nos. Venha, faça parte, reconecte-se com a natureza, você é muito importante e corresponsável pela sustentabilidade do planeta e pelo legado às futuras gerações.
Partindo do topo à esquerda: 1) berçário de araucárias, 2) recém transplantada no solo, 3) araucária jovem, 4) araucária adulta, 5) copa da araucária, 6) galhos e grimpas, 7) pinhas, 8) um bosque de araucárias, 9) curucacas, 10) gralha-azul, 11) papagaio-charão*, 12) papagaio do peito-roxo.
*Credit to: Dário Lins
Escute os cantos das aves
Para mais informações sobre as araucárias, visite os links:
1. Iniciativa Araucária - Embrapa
5. Livro de receitas com pinhões (EMBRAPA)
Veja os documentários históricos:
6. A Araucária Memória da Extinção
7. Araucária
Informações sobre RPPN:
8. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio
9. Cadastro Nacional de Unidades de Conservação - Brasil
10. Associação Gaúcha de RPPNs